sábado, 30 de janeiro de 2010


A gente sempre busca o melhor em tudo, o melhor pra gente, o melhor pros outros, o melhor pra certas situações, o melhor pra você e pras pessoas que você gosta. Agora, o que fazer quando o melhor não depende só de você? Quando o melhor que você idealiza não é recíproco? Quando você quer deixar as coisas claras e o outro lado parece não dar a mínima e a indiferença prevalece?
NADA! Exatamente isso, não há nada a ser feito, assim como sempre buscamos o melhor, também sempre nos cansamos da falta de consideração, da sobra de individualidade, cansamos de virtudes desequilibradas e de pessoas voltadas sempre para o próprio umbigo que insistem na utopia de que o mundo gira ao redor de suas decepções, de seus problemas, de seus traumas e lamentações.
Não cabe a ninguém julgar a intensidade da dor alheia, mas cabe a cada um buscar o seu limite, saber até onde pode ir, saber até onde insistir e o momento certo de recuar, não por falta de coragem, mas por falta de abertura, por falta de reciprocidade ou simplesmente porque aquilo não faz mais parte de sua vida. Não devemos transformar o dom da insistência em ignorância, tentar ir até onde não se pode, e nem esperar a ilusão de um dia poder...
Reforme de uma vez por todas essa gramática que de várias maneiras tenta boicotar a felicidade. Se preciso, reformule a posição dessas vírgulas que te dão um nó na garganta por não saber o que pensar. Não é preciso saber a pontuação pra substituir a que foi mudada, mas busque uma que permita enxergar a realidade, mesmo que esta seja nua e crua.
De que valem vírgulas se postas em lugares errados, se tidas como fonte ilusória de algo que te aflige? Antes um ponto final do que essa impotência de locomoção.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nunca viste água ferver?


"Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias... Nada se perde, tudo é ganho, repito, as bolhas continuam na água.”

Machado de Assis- Quincas Borba

Se gastássemos nosso tempo pensando no porquê de ‘aquela’ pessoa ter aparecido em nossa vida, no porquê de ter desaparecido, porquê nos deixou quando mais precisávamos ou no porquê de ter surgido quando mais precisávamos, raramente (sendo ainda muito otimista) chegaríamos a uma conclusão.
Se pararmos pra pensar, faz sentido, os humanos parecem essas bolhas, nunca sabemos quando saltarão a superfície, são incertos, inconstantes, não possuem regras de sincronismo, as vezes saltam por cima dos outros somente pensando no agora, no ‘calor do momento’, são involuntários, não sabem esperar e muitas vezes utilizam a palavra ‘instinto’ como fonte de fuga. A água onde as bolhas fervem, apesar de ser a mesma, se modifica, certas bolhas viram vapor e desaparecem, assim como a vida em dado momento evaporará, e você sabe quando isso pode acontecer? Que graça teria se alguém pudesse responder a essa questão?
As bolhas vão surgindo e constituindo essa água, o fato de elas desaparecerem não significa que nunca ali estiveram, podem deixar marcas, umas visíveis, outras camufladas, e outras esquecidas, não por vontade, orgulho ou soberba, mas porque a água também necessita do esquecimento para seguir seu fluxo.
Deve-se cuidado a inconstância das bolhas, cuidado para não achar que somos constituídos por elas esquecendo de nossas aparições a superfície, e por um outro lado, atentar-se ao fato de que assim como certas bolhas podem e deverão desaparecer, outras devem e permanecerão conosco até que o último vapor aconteça. Nunca saberemos o tempo que as bolhas nos acompanharão, embora algumas, como as constituídas por laços de sangue exalem quase cem por cento a certeza de perpetuidade. Então, resta-nos o encontro do equilíbrio, saber cuidar das bolhas sem perder o cuidado de si, mas com um cuidado ainda maior para não permanecer acima do recipiente a ferver sem tomar nenhuma decisão ou lutar para que bolhas permaneçam e outras evaporem...
O importante não é o tempo até que o último valor vá pelo ar, mas sim a sensação de que cada gota de cada bolha, seja ela passageira ou permanente, valeu a pena.
A verdade, é que por mais que se queira controlar a velocidade do vapor, a direção das bolhas, suas idas e vindas, sua intensidade ou sedentarismo, nunca teremos controle sobre nada, porque a água que as reveste é um mistério, e é isso que dá graça as relações que são estabelecidas aleatoria ou propositalmente ao longo desse fluxo, e seja ele longo ou curto, de todo jeito é vivo, de todo jeito é vida, depende de cada bolha, de mim, de você, de nós.