quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Não temos, somos!


A gente se angustia com o dia feio, com o trânsito que vai pegar até chegar no trabalho, com o cartão batido meia hora após o combinado, com a pilha de papéis que aguardam uma solução sob a mesa do escritório.
Se angustia em pensar no que comer no almoço, se angustia com o tempo que tem pra comer, com o sono que a comida vai dar, e com a hora de voltar ao trabalho.
Se angustia com o relógio que eterniza o horário de sair, com o trânsito que vai pegar pra ir pra casa, com as tarefas que tem que fazer até dormir, com o fato de dormir pouco por saber que amanhã virão mais e mais angustias.
Se angustia com a semana até que a sexta-feira chegue, se angustia com a sexta pensando do que fazer no final de semana, se angustia porque queria dormir mais no sábado e menos no domingo, se angustia com o domingo porque no dia seguinte a rotina angustiante está de volta.
Se angustia com as amizades querendo vê-las com mais frequência, se angustia com a família por não poder mais almoçar todos os domingos, se angustia com o amor com medo de perdê-lo, se angustia com o tempo que passa sem ser aproveitado, se angustia com a vida, que um dia terá fim!
Se angustia, angustia-se, e se angustia...

Porque somos angústia!
Seja quanto a finitude (Heidegger), seja quanto a liberdade (Sartre), SOMOS angústia!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do amor...


Achei muito interessante esse texto que encontrei navegando entediada...
Consta como autoria de Paulinho Moska.


Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto,
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído,
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio,
com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.